O valor teológico da liturgia
Autor: Manuel Pinto
ISBN: 9789898877352
Ano: 2019
Edição: 2ª
Editora: Secretariado Nacional de Liturgia
Sinopse: A intenção de Manuel Pinto ao apresentar a sua dissertação de doutoramento em Teologia – “o valor teológico da Liturgia” –, na Faculdade Teológica de Granada, não foi apresentar um verdadeiro tratado, mas apenas tentar o primeiro esboço de um trabalho sobre a Liturgia como fonte teológica, ou seja, «fazer um ensaio de um tratado geral do valor teológico da liturgia» e «tentar indicar ao teólogo e determinar-lhe as condições em que ele pode avaliar o testemunho da liturgia. O campo é muito vasto. Vamos somente desbravar o terreno».
Após algumas páginas de introdução, o autor articula o trabalho em duas partes: na primeira parte estuda as noções de Liturgia e do processo teológico à luz do Magistério e do pensar teológico; na segunda parte determina o valor teológico da Liturgia num estudo sistemático de investigação e verificação das fontes bíblicas, patrísticas e teológicas. O texto termina com uma série de conclusões.
Podemos dizer que os seis anos de vida que se seguiram à publicação da tese não permitiram ao autor desenvolver o seu pensamento, como alguém, felicitando-o, lhe pedia numa recensão ao livro: «se o assunto ora versado não é novo, se não são novos tão-pouco os princípios de hermenêutica de que o autor lançou mão, é novidade, certamente, a forma, diríamos até, a base científica em que no-los apresenta. Bem-haja, pois! Só nos resta pedir-lhe que, tendo-nos dado este “esboço”, não se fique por aqui. Esperamos nos venha a mimosear com um tratado completo» (G. Oliveira). Uma outra recensão numa revista internacional dizia mesmo que «cet important travail ne peut être ignoré ni des liturgistes ni des théologiens» – este importante trabalho não pode ser ignorado por liturgistas nem por teólogos – (L. Renwart).
No entanto, cinco anos depois da publicação de Manuel Pinto, o beneditino Cipriano Vagaggini, que também lhe sucede na cátedra de Liturgia na Pontifícia Universidade Gregoriana apresenta a obra il senso teológico della liturgia. Nesta obra emblemática para a ciência litúrgica cita por três vezes M. Pinto. Todavia, Vagaggini critica-o, afirmando: «todo o trabalho do padre Manuel Pinto se limita à questão do valor da liturgia para provar pelas fontes da revelação um determinado ponto da doutrina da Igreja a quem realmente ou metodologicamente o nega ou o coloca em dúvida, é claro que de toda a obra não se pode ter uma ideia adequada do valor teológico da liturgia. Aos aspectos mais importantes e mais ricos de valor teológico da liturgia não se faz nem mesmo alusão».
Ao criticar M. Pinto, critica ainda B. Capelle e K. Federer, por usarem um método que limita a investigação o valor teológico da liturgia, «somente à questão do “argumento litúrgico dos padres”, ou seja, somente à questão de como e em que sentido os Padres recorreram à liturgia para provar contra quem nega ou coloca em dúvida, pelo menos do ponto de vista metodológico, o fundamento de um determinado ponto de doutrina ensinado pela Igreja. Esses recentes autores não dizem palavra sobre todas as outras perspectivas teológico-litúrgicas que se encontram na literatura patrística. Como se o valor apologético fosse o único aspecto a fazer os Padres se interessarem pela liturgia. Claro que semelhante abordagem da pesquisa é toda insuficiente para nos fazer entender qual tenha sido para os Padres o valor teológico da liturgia». Na verdade, estes autores, segundo Vagaggini, reduzem o valor teológico da liturgia à explicação do princípio lex orandi/lex credendi, ou melhor, legem credendi lex statuat supplicandi.
De facto, na continuidade do grande protagonista do Movimento Litúrgico em Portugal, o Pe. António Coelho, OSB, que escreveu o Curso de Liturgia Romana entre 1926--1930, situamos Manuel Pinto como um enorme contributo à Ciência litúrgica.
M. Pinto segue Melchior Cano (séc. XVII), que com o seu tratado De locis theologicis caracterizará um método de fazer teologia, no qual a liturgia é considerada como um locus theologicus.
Na verdade, «a liturgia exige uma compreensão a nível teológico, porque é essencialmente portadora de todo o dado da fé; é chamada a uma relação com a teologia, não só no significado tradicional de locus theologicus, mas no sentido que é um modo de ser da revelação e como tal deve deixar-se iluminar pela própria revelação; é lícito falar da teologia litúrgica porque a prática litúrgica extrai ela mesma os dados da revelação, que a ilumina, seguindo as categorias litúrgicas» (S. Marsili).
É justa e necessária esta publicação e a sua inserção na colecção Exultet que o Secretariado Nacional da Liturgia propõe para uma cultura da Liturgia em língua portuguesa.
+ José Manuel Garcia Cordeiro
Bispo de Bragança-Miranda
Presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade